Visibilidade
Nenhum governo encarou de frente nem se mostrou preocupado com a questão LGBT em 2014. A depender do governo, dificilmente qualquer problema é resolvido. Mas há o povo. A iniciativa que emerge do povo, de gente que empresta o talento e a visibilidade para a causa. É o caso de Conchita Wurst, a cantora travesti austríaca e barbada que venceu o Eurovision, tradicional concurso musical da TV europeia. Conchita dedicou o prêmio aos que defendem a liberdade e a tolerância. A visibilidade é programa melhor do que políticas públicas específicas. E por isso foi importante também a capa da Time com a transexual Laverne Cox, atriz de Orante is The New Black. No Brasil, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, que conta a história de um rapaz cego e gay, foi o filme brasileiro escolhido para tentar vaga no Oscar. Toda causa é mais digna quando é espontânea e não envolve coerção.
Resolução da ONU
Este ano a ONU expressou grave preocupação com atos de violência e discriminação, em todas as regiões do mundo, cometidos contra indivíduos por causa de sua orientação sexual. Uma resolução pediu ao Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) atualizar o relatório sobre as leis e práticas discriminatórias e atos de violência contra indivíduos com base em sua orientação sexual e identidade de gênero. O objetivo era o de compartilhar as boas práticas e maneiras de superar a violência e a discriminação.
Livres & Iguais
A ONU lançou também a campanha Livres & Iguais para promover a igualdade e o respeito aos direitos LGBT. Com a intenção de aumentar a conscientização sobre a violência e a discriminação homofóbica, a iniciativa, lançada mundialmente, teve participação de Daniela Mercury no Brasil. Desde que assumiu o casamento com Malu Verçosa, Daniela Mercury mostra-se cada vez mais engajada pela causa. Um dia os artistas enrustidos perceberão que quem sai do armário já sai com a vantagem de ser representante da ONU e convidado a fazer apresentações na Virada Cultural.
Os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi
Durante os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, no começo do ano, protestos em várias cidades do mundo pressionaram os patrocinadores do evento. A organização All Out, que promoveu manifestações em 19 cidades, exigia que os patrocinadores usassem seu poder econômico para chamar a atenção para as leis discriminatórias russas, como a lei que pune com multa e até prisão qualquer um que faça propaganda da homossexualidade. A campanha mobilizou grandes marcas e trouxe visibilidade aos direitos de minorias. 2014 foi o ano em que grandes empresas começaram a perder o medo de vincular suas marcas à causa LGBT.
Casamento Gay do Ano
O casamento da Suzane Von Richthofen com uma seqüestradora, colega de presídio e ex de Elize Matsunaga, não é exatamente um exemplo de avanço dos Direitos Humanos, mas mostrou que o casamento gay é, hoje, uma realidade até em presídios.
Inclusão
Em outubro, a prefeitura de São Paulo incluiu gays e travestis na lista prioritária do cadastro do programa Minha Casa Minha Vida. Para isso, os inscritos precisam comprovar a situação de dificuldade através da apresentação de uma autodeclaração. Também tem prioridade vítimas de violência doméstica, negros, índios e idosos que moram sozinhos.
Sexualidade na Ficção
O problema de se assumir é que muitas vezes a pessoa deixa de ser alguém e passa a ser sua sexualidade. Não é o senhor Armando que encontramos na padaria, mas a sexualidade do senhor Armando que está comprando pão; não saímos mais para almoçar com a Dona Lígia, mas com a sexualidade da Dona Lígia. Na ficção, poucos conseguem tratar da sexualidade sem fazer dela um tema de grande importância. Um dos que conseguiram fazer isso muito bem, este ano, foi o desenho animado Adventure Time que, muito chique, muito elegante, planta a deixa de relacionamentos lésbicos e transexualidade nos episódios. No Brasil, ainda tratamos o tema com medo de assustar. Em vez de deixar que o público assimile e se confronte com seus valores, as novelas preparam o terreno com todas as questões a serem discutidas. Não é à toa que o beijo gay seja polêmico. Em Amor à Vida, o beijo gay foi acontecer no último capítulo da novela, dando uma importância exagerada para algo que deveria ser encarado com maior naturalidade.
Sexualidade e a Igreja
Papa Francisco provou ser um papa de exceção. Ao dizer que a Igreja precisa adotar uma postura mais positiva sobre a homossexualidade, tornou-se um dos poucos papas que conseguiu agradar certas militâncias. Um relatório escrito por bispos em meio ao sínodo diz que homossexuais têm “talentos e qualidades para oferecer à comunidade cristã”. Organizações de direitos humanos, como a Human Rights Campaign, acredita que o documento traz mudanças de tom na Igreja. Durante a Jornada Mundial, o papa já havia dito que homossexuais “não devem ser discriminados e devem ser integrados na sociedade”.
Saída do Armário
Talvez a saída de armário mais comentada deste ano seja a do CEO da Apple, Tim Cook. Ainda que a solenidade de sair do armário indique uma sociedade preconceituosa, muitos veem na ação um avanço. Acredito que só haverá avanço mesmo quando sair do armário não for mais notícia e a sexualidade de alguém, mesmo de um CEO de uma das maiores empresas do mundo, for irrelevante.
O Ano das Polarizações
Enquanto o CEO da Apple se assumia, o CEO do Mozilla apoiou a proibição de casamento gay nos EUA. Depois de várias campanhas e de muita pressão, inclusive de funcionários da empresa, Brendan Eich se demitiu. Ao mesmo tempo em que a pressão pode ser positiva para a visibilidade da causa, também pode comprometê-la quando comete injustiças. E exemplos não faltaram este ano. Talvez o mais emblemático tenha acontecido com a drag queen Ru Paul, que foi chamada de transfóbica por usar expressões como “tranny” ou “shemale”, mesmo ela sendo um ícone na luta pela causa LGBT. 2014 foi o ano das polarizações; as discussões, principalmente na internet, se tornaram mais violentas e tomaram proporções que, há poucos anos, passaria por esquete de programa humorístico ruim.
Fonte: Yahoo
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